Do Blog do Magno Martins.
Um vídeo do economista Eduardo Moreira que propõe a demissão de Paulo Guedes (ministro da Economia) e Campos Neto (presidente do Banco Central) circula em grupo de mensagens de ministros e altos integrantes do governo. A pressão sobre os responsáveis pela política econômica aumentou ao longo da semana com a descoberta de que eles mantêm offshores em paraísos fiscais enquanto atuam no setor público, principalmente sobre Guedes.
O caso foi revelado pela série de reportagens Pandora Papers, produzida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos em parceria com o Poder360. A empresa de Guedes nas Ilhas Virgens Britânicas tem patrimônio de US$ 9,5 milhões. Campos Neto fechou uma das empresas offshore que tinha meses após assumir o Banco Central. Ele teve outras, mas diz que encerrou todas.
Na gravação, Eduardo Moreira diz que há 3 motivos para alguém ter empresa no exterior: “Ou ela quer fugir dos impostos. Ou ocultar patrimônio e não deixar que alguém saiba quanto ela tem. Ou se proteger de alguma ruptura econômica que vai acontecer no país”.
Moreira diz que Guedes e Campos Neto devem ser questionados por qual desses motivos eles mandaram dinheiro para fora do Brasil. “Os 3 são escandalosos. Os 3 são motivos para uma demissão sumária, por justa causa”.
Para o economista, que tem 535 mil seguidores em seu canal no YouTube, é um “absurdo” os responsáveis pelas contas do país não quererem pagar impostos no Brasil. “Isso é seríssimo”, afirmou.
O ministro da Economia foi convocado para explicar no plenário da Câmara a offshore. O presidente do Banco Central foi convidado. Guedes não recebeu apoio público de Jair Bolsonaro desde a publicação da reportagem do Poder360. Nenhum colega da Esplanada fez uma defesa efusiva do ministro.
Guedes é visto por uma parte do governo como um entrave para a melhora da popularidade do presidente, como a rejeição dele à prorrogação do auxílio emergencial. O procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu uma investigação preliminar sobre os investimentos no exterior dos integrantes da equipe de Bolsonaro. Ter offshore, por si só, não é ilegal, desde que a origem do dinheiro seja lícita e declarada ao Fisco.
Na última sexta-feira, durante um evento virtual com investidores e falando em inglês, Guedes disse que não há conflito de interesses ao manter uma empresa no exterior (com recursos em dólar). Declarou que a offshore é legal, que foi declarada e que não houve movimentação trazendo dinheiro do exterior ou mandando para fora do país.
O ministro da Economia disse também que perdeu muito dinheiro por ter ingressado no governo, para evitar problemas. Afirmou que tudo o que estava nas mãos dele, vendeu ao preço do investimento, antes de entrar no ministério. Ainda na sexta, a gestora da offshore divulgou documento no qual informa que o ministro deixou o quadro de diretores da empresa em dezembro de 2018.
Ainda não foi explicado: 1) se Guedes continuou como sócio; 2) se a filha e/ou a mulher (ambas no comando da offshore) do ministro fizeram investimentos depois de Guedes assumir o cargo mais importante da economia do país.
O caso de Campos Neto é menos emblemático. Ele informou ao Senado em 1º de janeiro de 2019 que tinha as empresas. No mesmo documento, disse que iria se abster de fazer investimentos e aportes, procedimento recomendado pelo Código de Conduta dos funcionários do Banco Central.
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