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sábado, 19 de dezembro de 2015

Indicação de Barbosa marca vitória de 'ajuste brando' sobre 'ajuste duro'


A indicação do atual ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, para a pasta da Fazenda no lugar de Joaquim Levy marca a vitória do ajuste fiscal "brando" ou "moderado" sobre um ajuste fiscal mais "duro" ou "linear", segundo economistas consultados pela BBC Brasil.
Nelson Barbosa (à direita) assume a Fazenda com a saída de Joaquim Levy (à esquerda)
Valter Campanato/ABr - 14.9.15
Nelson Barbosa (à direita) assume a Fazenda com a saída de Joaquim Levy (à esquerda)
O anúncio feito nesta sexta-feira foi apressado após Levy fazer um discurso de despedida em uma reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) do Banco Central, que vazou para a imprensa.
"O foco continua sendo promover o reequilíbrio fiscal, condição necessária para o crescimento sustentável", disse Barbosa em entrevista coletiva na noite desta sexta, citando também a importância em recuperar os investimentos no país e controlar a inflação.
Dentro da equipe econômica, Levy sempre foi considerado o defensor de um ajuste mais rígido, com cortes de gastos mais drásticos, enquanto Barbosa preferiria um enxugamento das contas um pouco menor.
Isso fez de Levy o preferido dos economistas ortodoxos e analistas do mercado financeiro, que, no caso de sua substituição, preferiam que o novo ministro fosse o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
Nas quedas de braço disputadas dentro da equipe econômica, porém, as propostas do ministro da Fazenda no geral saíram derrotadas.
Em maio, por exemplo, o governo anunciou um contingenciamento de gastos de R$ 69,9 bilhões, quando, segundo informações divulgadas pela imprensa, Levy defendia uma tesourada de R$ 80 bilhões.
Em julho, foi anunciada uma redução do superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida) de 1,1% para 0,15% do PIB, o que teria desagradado o ministro.
Mais recentemente, o governo enviou ao Congresso uma proposta para reduzir a meta de superávit para 2016 de 0,7% para 0,5% do PIB, que foi considerada inadequada por Levy.
A chegada de Barbosa à Fazenda divide a opinião de economistas. No geral, a troca foi bem vista por heterodoxos, como Fernando Sarti, da Unicamp.
"Barbosa tem um conhecimento amplo da máquina do Estado, além de uma sensibilidade maior para temas sociais", diz Sarti. "Isso lhe permitirá escolher melhor onde cortar. Ou seja, ele vão poder fazer um ajuste fiscal mais cirúrgico e menos linear."
Outros economistas, porém, viram na indicação de Barbosa o risco de uma volta ao passado. "Foi um retrocesso", opina Otto Nogami, professor do Insper. "Barbosa é muito suscetível a pressões políticas e mais favorável a uma intervenção maior do Estado na economia. Por isso, acho que a troca que pode colocar em risco o equilíbrio das contas públicas e as políticas de combate a inflação."
Trajetória
Barbosa já ocupou o cargo de número 2 no Ministério da Fazenda, quando a pasta era comandada por Guido Mantega. E, em momentos de crise no primeiro mandato de Dilma, seu nome já havia sido cogitado para liderar a pasta.
Ele sempre teve boa articulação com a presidente, mas a perda de espaço nas decisões de política econômica acabou levando-o a deixar a função de secretário-executivo da Fazenda em junho de 2013.
O motivo da saída teriam sido as discordâncias com o secretário do Tesouro Arno Augustin, que na época virou um dos principais interlocutores de Dilma.
Um dos embates com Augustin era justamente a não concordância com as manobras para melhorar artificialmente as contas do governo, que ficaram conhecidas como "pedaladas fiscais" e hoje são o principal argumento usado por opositores para defender o impeachment da presidente.
Barbosa estava no governo petista desde 2003, primeiro ano do governo Lula. Ele integrou a equipe de Mantega quando este era ministro do Planejamento. Após breve passagem pelo BNDES, em 2006 foi para a Fazenda, onde ocupou outras secretarias antes de virar secretário-executivo em 2011.
Também teve um papel importante na formulação e implementação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o que o aproximou de Dilma, quando ela era ministra da Casa Civil.
Trabalhou no comitê de reeleição do presidente Lula em 2006 e ajudou a formular o programa econômico da então candidata Dilma, em 2010.
Barbosa nasceu no Rio de Janeiro em 1969 e formou-se em economia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1992. Concluiu o mestrado na mesma universidade em 1995 e o doutorado na New School of Social Research, em Nova York, considerada um centro global do pensamento econômico heterodoxo.
Ele deu aulas na New School University (Nova York), entre 1999 e 2002, e a partir de 2002 tornou-se professor-adjunto no Instituto de Economia da UFRJ.

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