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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Brasileiros ilegais nos Estados Unidos estão à beira da deportação: “É ilusão tentar se esconder”, diz especialista…


Dimas SaNTOs

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Ser imigrante ilegal nos Estados Unidos nunca foi tarefa fácil. A partir do decreto do presidente Donald Trump, na última quarta-feira (25), tal missão se tornou ainda mais difícil, por ter tornado os ilegais praticamente foragidos. A ordem executiva assinada por Trump agora possibilita as polícias locais – municipais e estaduais – de exercerem funções de imigração e solicitarem comprovação de “status” migratório das pessoas que forem abordadas.

Desta maneira, segundo conta Leonardo Freitas, ex-agente federal americano, os cerca de 80 mil brasileiros que estão ilegalmente nos Estados Unidos, nunca estiveram tão na mira das autoridades quanto agora. Eles correm sério risco de serem deportados, com a nova determinação.

— O perfil do ilegal brasileiro, em geral, é aquele voltado a serviços e de baixa escolaridade, chamado de alto risco na visão da atual administração. Esses imigrantes são realmente a bola da vez. Tendem a ser os mais afetados com a nova diretriz e muitos deles vão receber visitas da imigração na porta de casa dentro em breve, não tenho dúvida nenhuma em relação a isso.

Continua…

No momento, são cerca de 400 mil brasileiros (entre legais e ilegais) que moram em território americano, segundo Freitas, um dos sócios da Hayman-Woodward, consultoria especializada em desenvolvimento de negócios e expatriação de pessoas físicas e jurídicas nos Estados Unidos. No país, há cerca de 42 milhões de imigrantes, dos quais 11 milhões são ilegais. Para os ilegais, não há como escapar, segundo ele, caso as autoridades iniciem realmente uma busca, incluindo de brasileiros.

— Posso dizer o seguinte: trabalhei por 15 anos no Departamento de Segurança Nacional desse país. Se eu quiser saber onde você está nesse exato momento no Brasil, eu consigo. As autoridades aqui não vão saber onde os ilegais estão dentro do país? É ilusão tentar se esconder. Quando o FBI, o serviço de imigração, as polícias querem encontrar as pessoas, eles encontram. A pessoa sempre deixa rastros, seja telefônico, financeiro, o que for. Vai ser encontrada, não adianta, pode se esconder na montanha que vai ser achada.

O consultor ressalta que menos de 15% dos brasileiros ilegais cometeram crimes e que, tanto os legais quanto os ilegais do Brasil, têm uma importante parcela de contribuição na economia americana. Lembra que empresas como a Gerdau, em relação ao aço, o Burguer King (com cotistas brasileiros) e a JBS, na área de carnes, são potências dentro do mercado interno dos Estados Unidos.

— O Brasil tem uma contribuição maior do que a média de outras nacionalidades.  71% dos brasileiros acima de 16 anos nos Estados Unidos estão no mercado de trabalho, contra 66% dos imigrantes em geral. É algo significativo. Até os ilegais contribuem, é muito comum a pessoa ter uma empresa, pagar impostos, gerar empregos mas não estar legalizada.

Advogados certificados

A ordem de Trump, porém, diz respeito também aos que já estão legalizados mas precisam renovar o visto, sejam eles turistas, estudantes, trabalhadores. Freitas conta que agora o procedimento não é mais apenas burocrático e administrativo. Terá de haver nova entrevista nos consulados, caso o imigrante exerça funções consulares, e no sistema de imigração.

— Isso dificulta, porque algumas pessoas podem não estar mais qualificadas e irão perder a oportunidade de terem o visto renovado.

Muitos destes problemas que prometem dar muita dor de cabeça a brasileiros ilegais poderiam ter sido evitados, pelo menos para a maioria deles, de acordo com o especialista.

 

— Existem maneiras juridicamente corretas de se legalizar e as pessoas pagam o preço da ignorância, por quererem fazer a coisa barata para resolver um problema de vida. Acabam sendo mal orientadas, por contador, amigo, escrivão, notário público, que não têm qualificação nem permissão para falarem de imigração.

Freitas afirma que somente advogados (ou consultores) credenciados, licenciados por ordens de advogados nos Estados e com certificados da Board of Immigration Appeals, mais alto órgão de aplicação das leis de imigração, têm essa capacidade. E eles estão espalhados por todo o país.

— Só em Miami, há pelo menos sete locais em um raio de 500m de onde estou. Por todo o país há pessoas com qualificação, o que tem de ser feito é checagem das credenciais das pessoas.

Para um ilegal, porém, há alguma possibilidade dele não ser deportado caso tenha algum vínculo com o país, por exemplo, filhos em escolas, imóveis, ligações cosanguíneas com cidadãos americanos. Mas tudo vai depender do juiz de imigração. Se não há o status migratório, tudo é possível, conforme explica Freitas.

— Cada caso é um caso. Conheço dois casos muito distintos. Um de uma pessoa que não tinha vínculo nenhum, família, nada nos Estados Unidos e o juiz de imigração deixou ele ficar no país. Já outro tinha apartamento, casa, carro, filhos, ex-mulher, mãe cidadã americana… Tinha tudo e o juiz mandou ele voltar.

O brasileiro legalizado, segundo ele, não sofre preconceitos no país.

— Ao contrário, a pessoa qualificada, com status legal, é até incentivada a se tornar residente permanente, não só temporário. Há várias maneiras legais relativamente rápidas de alguém se tornar cidadão americano. Existe até programa das Forças Armadas para quem quer ser oficial, para quem tem qualificação médica, como dentista, por exemplo. A iniciativa se chama Mavni (Military Accessions Vital to the National Interest) e promove cidadania em menos de um ano, com a concessão do passaporte americano, acima do Green Card (visto de residência).

Freitas ressalta, no entanto, que a determinação de Trump tem uma vigência de no máximo dois meses.

— Presidente dos Estados Unidos não é um rei eleito, ele pode exercer uma ordem executiva por 60 dias, após isso é necessária comprovação de que a ordem tem validade plena de direito e que seja ratificada dentro do congresso, senão se torna nula.

Fonte: R7

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