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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Leitura Imperdível: Leitura Superinteressante ! Recomendo.

SOB O IMPÉRIO DO AMOR E DO ÓDIO (IV)
(O nascimento do Brasil)
No primeiro artigo desta série vimos como nos são incutidos os valores que sustentam e perpetuam o sistema.
No segundo, demos uma passada por Pavlov, para entendermos o que é reflexo condicionado e como é usado na publicidade, seja com interesses comerciais ou políticos.
No terceiro, torci orelhinhas.
Muita gente se zangou, mas não foi fogo amigo e muito menos briga. Se eu perguntar a todos os companheiros: “quem mais te amou na vida”, ouvirei um afinadíssimo coral: “minha mãe”.
E passo à nova pergunta: “quem mais te deu umas belas palmadas, deu homéricos esporros, colocou de castigo, contrariou, deixou com raiva?” E o afinado coral se repetirá: “minha mãe”.
Que bom que nossas mães nos fizeram pessoas de bem e do bem.
Fazer política é criticar, com veemência e agressividade aos adversários e inimigos de classe, com a mesma veemência, mas sem agressividade, aos companheiros, e se auto criticar, única maneira de avançar.
No dia em que eu redigir e postar só para agradar e coletar elogios não merecerei mais respeito e confiança dos companheiros, e nem de mim mesmo.
Continue a esperar porradas, muitas porradas minhas, nos inimigos, mas cascudos e puxões de orelhas nos amigos sempre que eu farejar equívocos. Só sei ser assim.
Isto posto, vamos analisar o golpe, começando lá no início.
Descoberto o Brasil, começou o saque português, levando desde plantas, como o pau Brasil, até minérios, como ouro e pedras preciosas, e aqui não vale reclamar, não éramos ainda Brasil, não tínhamos características próprias, étnicas, políticas, culturais, mas uma colônia, espécie de terra devoluta ocupada pelos portugueses (os índios estavam muito dispersos e não formavam um povo, mas um conjunto de nações, de povos, muitas delas inimigas entre si, em permanentes guerras).
Começamos a avançar, com a economia apoiada nos escravos, nos negros capturados na África e aqui vendidos como gado ou máquinas de produção.
Veio a fase açucareira, que podemos considerar como a implantação de uma agricultura organizada, em larga escala, e os engenhos, a implantação da indústria no Brasil, gerando toda uma economia complementar, com indústrias menores produzindo componentes para os engenhos, sustentando a economia da época, como a Petrobras e a indústria automotiva, hoje.
Aqui começou a se estruturar o Brasil.
Enquanto isto acontecia na economia, os brancos (portugueses e seus descendentes diretos), os índios e os negros trazidos da África, começaram a experimentar a culinária um do outro, misturando cardápios e ingredientes, criando uma gastronomia diferenciada.
Negros e brancos gostaram das estampas na tapeçaria indígena e imitaram; brancos e índios gostaram das indumentárias dos negros, principalmente nos seus rituais religiosos e imitaram, e negros e índios também se vestiram como os brancos, logo misturando tudo, por conta da criatividade e das influências sobre as fiandeiras e costureiras da época, posteriormente absorvidas pela indústria têxtil e do vestuário.
Os brancos e índios acharam interessante a música dos negros, principalmente nos seus rituais religiosos, já os negros e brancos sensibilizaram-se com os cantos e instrumentos nativos, com brancos e negros ouvindo a música portuguesa, com influências recíprocas sobre os compositores, criando essa miríade de ritmos brasileiros.
Os índios conheceram Jesus e os santos católicos, associando a Tupã e aos semideuses da floresta, despachando pamonha e tapioca na mata, para Jesus.
O negros também conheceram Jesus e os santos católicos, e associaram a Oxalá (Jesus), Zambi (Deus) e a diversos orixás (santos católicos), criando o que chamamos de sincretismo religioso, despachando dendê e mungunzá para Jesus. .
Os portugueses eram mestres, useiros e viseiros em estuprar índias e negras, fazendo filhos, mamelucos ou mulatos. Na ralé, índios e negros faziam filhos, originando cafusos, e até negros faziam filhos em brancas, com a permissão delas, que se justificavam como estupradas, com os pais das crianças sendo executados como estupradores.
E cafusos comeram mulatas, mulatos comeram índias, índios comeram mamelucos, brancos comeram todo mundo... Diluindo gens, até que passamos de colônia a império, passando a fazer parte do império português, inclusive com a família real portuguesa estabelecida aqui, quando as características do que somos hoje já estavam postas.
Hoje somos um povo e uma nação bem característicos, diferentes e diferenciados, só encontrando similar cultural e étnico nas Antilhas, notadamente em Cuba.
No resto do mundo a miscigenação foi e é muito lenta, caracterizando os países como de brancos ou negros, raros com prevalência indígena, caso da Bolívia.
A promoção da colônia à parte do império português não foi favor, bondade ou benevolência dos portugueses, mas fruto de uma conjuntura internacional, mais precisamente européia: a família real portuguesa veio para o Brasil fugindo de Napoleão e não faria sentido estarem numa colônia.
E chegamos ao império, prontos para libertarmos os escravos, fazermos a independência e proclamarmos a república.
E o que isto tem a ver com os artigos anteriores e com o golpe, me perguntará o ocasional leitor mais atento.
A história não se faz através de fatos fortuitos, por acaso, e muito menos por intervenção divina ou ação isolada de algum líder, a história é seqüencial e se apóia na luta de classes.
Este golpe de 16 tem tudo a ver com a colônia, o império, o golpe da proclamação da república, o quase golpe, evitado por Getúlio à custa da própria vida, o quase golpe contra Juscelino, o golpe de 64, entre outros golpes menores, como a eleição de Collor, por exemplo.
Em todos esses momentos o que tivemos foi o estupro da classe dominante (primeiro os latifundiários e depois a burguesia) sobre a classe dominada, o proletariado, nós.
Mas isso é papo para o próximo artigo, quando veremos a evolução histórica durante o século vinte, para, no outro artigo, entendermos a chegada do PT ao poder e o golpe atual, ainda em curso.
Sem entendermos o que está acontecendo e porque está acontecendo somos muito menos eficientes na resistência.
Francisco Costa
Rio, 11/01/2017.(Fonte Facebook)

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