23/12/2016 17:50
Eles estão a milhares de quilômetros de suas famílias
Por: Renan Xavier
renanxavier@diariosp.com.br
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Fotos: Renan Xavier/DiárioSP
São Paulo tornou-se o destino de milhares de refugiados em 2016. Na maioria dos casos, são sírios, angolanos, colombianos e congolenses que, afastados de seus parentes, estão descobrindo neste período de Natal, data que simboliza a importância da união familiar para a maioria brasileiros, o duro significado da palavra saudade.
Quem atravessa fronteiras em busca de asilo ou condições de sobrevivência na capital paulista quase sempre se depara com os muros de uma difícil missão: integrar uma sociedade bem diferente da sua.
Para acolher, dar assistência e facilitar a inclusão de pessoas nessas condições, existem diversas iniciativas de organizações não-governamentais, instituições civis e religiosas, além do próprio Crai (Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes), serviço da Prefeitura de São Paulo.
Em todo o país, existem quase nove mil refugiados reconhecidos e outros 28 mil na fila de espera. Os números são do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça, e dão uma dimensão da tragédia global das guerras, que a cada minuto gera 24 novos fugitivos do medo no mundo. No final de 2015, foram 65,3 milhões de deslocadas por conflitos armados.
São histórias como a de Mariam Baete, de 26 anos, que chegou de Angola ao país no início deste ano. Suas lembranças com os pais, e dois de seus irmãos, são exatamente de 25 de dezembro do ano passado, poucos dias antes de embarcar rumo ao desconhecido Brasil. O motivo da viagem foi a fuga da miséria e da violência, responsável pela matança de milhares de civis nos últimos anos. Atualmente ela mora com o irmão mais novo, o auxiliar de serviços gerais João Ngonzo, 24, no bairro de Arthur Alvim, na Zona Leste.
Objetivos
Mariam sonha com o dia em que voltará às salas de aula e finalmente encontrar um emprego. “Estou aqui, mas meu coração está distante, do outro lado do Atlântico. Quero estudar para poder ajudar meus pais. Meu sonho é ser cabeleireira. Mas também ficaria muito feliz em trabalhar com costura”, disse.
Confira outras histórias de refugiados e imigrantes a seguir:
“Eu gostaria de conhecer meu filho”
Da República Democrática do Congo, Sérgio Alassissa trouxe muitas lembranças. O antigo trabalho como motorista, a natureza exuberante, as festas em família. No entanto, ao menos uma experiência ele deixou de viver: conhecer o próprio filho, que nasceu no mês passado. Desde que chegou à capital paulista em busca de emprego, há três meses, o congolense, de 26 anos, se depara com os desafios, como aprender o novo idioma e da batalha por um emprego. Apesar disso, está feliz em ter saído do Congo, país marcado por disputas políticas e étnicas que já mataram 5,5 milhões de pessoas desde 1999.
“Meu presente de Natal seria rever minha família”
Nem sempre são conflitos armados que obrigam pessoas a abandonar seus países. Às vezes, a guerra é contra um inimigo invisível, mas igualmente violento: a fome. Foi justamente a esperança de encontrar um emprego e mudar essa realidade que trouxe Wesley Badeau, de 28 anos, do Haiti para São Paulo. Chegou ao país há sete meses, sozinho. “Nesta época de Natal sinto ainda mais falta dos meus pais e irmãos”, contou. Admirador das luzes natalinas, carrega na ponta da língua o presente que gostaria de receber nessa data: “Rever minha família”.
“Tudo o que conheço foi destruído pela guerra”
Já faz dois anos que o avião que trouxe da Jordânia o engenheiro eletrônico sírio Emad Almahmoud, de 28 anos, aterrissou no Brasil. Ele chegou por aqui acompanhado do pai e cunhado, mas deixou para trás esposa e mãe. Com fé no Alcorão, livro sagrado do Islã, trabalha para juntar ao menos dois mil dólares, valor médio para bancar a passagem aérea das sírias, que atualmente vivem na Jordânia. Em São Paulo, suas conquistas se resumem a uma pequena lanchonete na Rua da Consolação, Centro, onde tenta juntar dinheiro com a venda de pratos típicos de seu distante lar, devastado por uma guerra brutal.
“Não quero que ele me esqueça”
Em setembro, Estefania Candimba encarou a despedida mais dolorosa de sua vida. Deixava para trás seu filho mais velho, de 14 anos, em Angola, país africano marcado pela pobreza e violência. Aqui em São Paulo, só pensa em arrumar um emprego e trazer o primogênito. Enquanto alimenta a esperança em dias melhores, divide um quarto de abrigo na região central com sua caçula, Wilfania, de quatro anos. Há duas semanas, a pequena teve seu primeiro dia de aula em uma escola municipal. “Ela nem queria voltar para casa”, contou Estefania, feliz com a boa adaptação da filha.
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