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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Consumo consciente ainda é frágil no Brasil

09/08/2015 18:00
Na hora do vamos ver, poucas pessoas tomam as atitudes necessárias para não ficar no vermelho

Só 21,8% podem se considerar consumidores conscientes / Divulgação

Por: Maria do Carmo Caçador
portalweb@redebomdia.com.br
Todo mundo sabe que é a hora de apertar os cintos, mas nem todos aplicam essa lição no dia a dia. Essa foi a constatação do SPC (Serviços de Proteção ao Crédito) em um levantamento que aponta o baixo comprometimento do consumidor quando o assunto é avaliar antes de comprar.
Pelo estudo, o brasileiro reconhece a importância de consumir de forma consciente, mas na hora do vamos ver, poucas são as pessoas que tomam as atitudes necessárias para não ficar no vermelho. Só 21,8% podem se considerar consumidores conscientes, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
“O brasileiro é um consumidor em transição. Ele sabe aonde vai, mas continua caminhando, ainda não chegou lá”, ilustra a economista.
O estudo mostra que do total de entrevistados, 46,8% disseram evitar desperdício e compras desnecessárias, 33% refletem sobre as consequências de uma compra antes de concretizá-la e 9,7% manifestaram atitudes que têm como foco economizar dinheiro.
Para quem saiu da linha e comprou mais do que deveria, não adianta choro nem vela, o resultado é implacável: Dívidas. Conforme dados do Banco Central, o grau de endividamento do brasileiro chegou a 46,3%. Para sair do aperto, a dica é uma só, renegociar o que for possível e economizar o quanto puder.
Bolso/ De acordo com a pesquisa, o consumidor se ajusta ao consumo consciente quando “dói” no bolso, ou seja, no momento em que a conta está mais cara. A economista explica que fazer isso é o mesmo que colocar trinco na porta depois que a casa foi assaltada. Evita os próximos roubos, mas o estrago já foi feito. “O ideal é se ajustar antes, para que a situação não fique extrema. Quando você faz isso – poupa e evita gastos desnecessários-, tem mais fôlego para superar os momentos mais críticos”, adverte a economista.
Recursos naturais/ Quando o assunto é meio ambiente as pessoas estão mais bem informadas. Porém, até tomar uma atitude efetiva, a “consciência” de consumo precisa passar mais uma vez pelo bolso. “O bombardeio de informações sobre a importância de economizar energia e água e o custo mais elevado das tarifas obrigou de certa forma o consumidor a incorporar hábitos de economia”, destaca a responsável pela pesquisa. O estudo mostra que 32,7% dos entrevistados disseram que economizam água e luz elétrica para evitar o desperdício do recurso natural, sendo que 21,5% declararam ter reduzido o consumo por causa do aumento da conta.
Fase aumenta a procura na área de serviços
Se o dinheiro está curto, vale a pena investir em reformas ou consertos, antes de decidir comprar um produto novo. O setor de serviços, que engloba costureiras, sapateiros e consertos em geral tem registrado aumento da procura pela mão de obra. Os índices variam, mas quem atua na área não tem do que reclamar.
“O trabalho mais que dobrou no fim do ano passado, depois deu uma caída e agora voltou com força”, destaca a costureira Elenice da Silva Alves, 47 anos. Ela começou a costurar em 1992 e de lá pra cá não parou mais. “Criei meus filhos (26, 24 e 11 anos) e comprei minha casa, trabalhando dia e noite”, conta Elenice. Este ano, ela decidiu passar seus conhecimentos para frente, ensinando outras mulheres a costurar. Elenice é professora do curso gratuito de Corte e Costura do Fundo Social de Solidariedade, de Diadema, no ABCD Paulista. O curso já formou 20 alunas. A Cooperativa Costure Bem, integrante da Incubadora Pública de Empreendimentos Populares Solidários, produz bolsas a partir de banners utilizados em divulgação de eventos, uniformes para empresas e escolas, entre outras.
“Como a procura tem aumentado, o interesse pela profissão também. Hoje as turmas estão lotadas no curso”, informa Elenice. A costureira conta que as clientes procuram os serviços para reformas diversas. “Tem gente que quer transformar uma calça em saia, uma camisa em camiseta e por aí vai. Com a crise muita gente prefere reformar roupas ao invés de comprar novas”, arremata.
Hábitos no consumo das famílias se adaptam
Para reforçar o impacto da mudança de hábitos no consumo das famílias, a economista-chefe do SPC compara o momento atual à ao apagão de energia elétrica entre 2001 e 2002. “Na época muitas famílias optaram por aquecimento a gás ou substituíram lâmpadas por modelos mais econômicos. Esses hábitos foram mantidos mesmo depois de superada a crise de energia daquela época. Atitudes como essas contribuíram para a redução do consumo dessas famílias”, explica Marcela.
De acordo com a pesquisa, 74% dos entrevistados fazem as atividades consideradas adequadas para o uso racional da água. O principal hábito para 90,4% deles é o de fechar a torneira enquanto escova os dentes. Já 88,3% afirmaram não lavar a casa ou calçada com mangueira. Sobre economia de luz, 76% dos entrevistados declararam terem ações conscientes. O hábito mais comum é o de apagar as luzes de ambientes vazios (97,1%).
A especialista do SPC acredita que a situação atual da economia dará lições preciosas de consumo consciente. “A crise beneficia justamente a mudança dos hábitos. Durante as últimas décadas, houve um forte apelo para o consumo, com crédito mais fácil e juros menores. Agora que a situação se inverteu, é hora de repensar antigos hábitos”, pondera. Avaliar a necessidade de comprar antes de sair abrindo a carteira é, talvez, o maior ensinamento para o consumidor mais crítico.
MAIS:
Mais velhos
Apesar de terem acesso às informações, os consumidores mais jovens são menos conscientes se comparado aos mais velhos, calejados por outras crises econômicas. “Quem tem hoje 24 anos, não vivenciou as crises anteriores, então, tem menos consciência prática de como consumir de forma coerente”, explica a economista. De acordo com o levantamento o percentual de atitudes corretas para quem tem entre 18 e 29 anos é de 64,5%, enquanto para quem tem mais de 56 anos, o índice é maior: 74,2%. Na média, 69,3% da população em geral toma atitudes conscientes.
Mudança de hábito
De todos os países da América Latina, o brasileiro foi o que mais apresentou mudanças de hábitos por causa da economia em 2015. De acordo com um levantamento do Instituto Data Popular, 88% dos entrevistados declararam que a crise chegou à vida pessoal. O resultado desse impacto foi redução no consumo, corte de gastos e busca por alternativas de renda. Gastos com lazer e mudanças na lista do supermercado foram as principais medidas adotadas por 84% dos brasileiros. A pesquisa foi feita  no Brasil, Argentina, México, Chile e Uruguai.


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